Até o sol nascer.

Amanhece e a gente se conhece, nada planejado, tudo por acaso.
E de uma vez me entreguei a você, seu sorriso logo que vi mexeu comigo como nunca antes.
Lembro da sua blusa xadrez abotoada até a metade, seu short jeans e dos pássaros voando lá fora. Foi amor a primeira, a segunda e a terceira vista.
Logo me tornei quase um prisioneiro, via seu rosto em cada rosto, via você por todos os lados
Só pensava em você e no que fazer pra te arrancar o sorriso mais tentador.
De manha você me quer ardente, apaixonante, não havia barreiras, corríamos todos os riscos pra nos divertir ou apenas em prol do perigoso e divertido.
De manha sonhávamos em ter um casal de gêmeos, sonhávamos em ter uma casa de praia e outra de campo, preparamos um roteiro com um mapa do lado, o mundo cabia na mesa da minha sala.

Ao entardecer já estávamos mais maduros, tínhamos compromissos, uma vida pra levar.
Aquela paixão jovial que seus pais diziam que não daria certo, hoje já se tornou um amor, na saúde e na doença. Seus defeitos se encaixam com as minhas qualidades, brigas às vezes apareciam, muitas vezes pensamos em desistir, seguir caminhos diferentes, mas só pensamos, não separamos, talvez por causa das crianças.
De tarde, eu não encontro as chaves do carro, você as pega pra mim, você esquece e eu lembro que seu cunhado vai vir jantar conosco, você faz o lanche das crianças, eu as levo para o colégio, nos conhecemos mais do que podíamos esperar um dia.

O sol vai embora e a lua aparece. De noite, eu vejo as marcas que o tempo deixou, o meu e o seu rosto todo enrugado e uma nova (ruga) aparece cada vez que você me faz sorrir. Lá estávamos nós sozinhos novamente onde tudo começou, dessa vez sem criança chorando de madrugada , sem chaves do carro para perder ,nem compromissos.
Minha maior preocupação seria aonde ia levar meu neto para passear no final de semana, talvez eu o leve para pescar, o pai dele adorava fazer isso.
Cá estávamos nós, a mesma mulher que eu vi vestindo aquela blusa xadrez pouco abotoada, agora um pouco diferente, para mim mais bonita, melhor do que qualquer outra no mundo. Nem tudo saiu como o planejado, o roteiro foi perdido no meio do caminho, a rotina acabou com ele, a casa de praia deixamos sempre para comprar no próximo verão e o casal de gêmeos, ah isso não é problema, to satisfeito com nosso casal de filhos, não precisam ser gêmeos.
 Satisfação maior do que essa de ser pai é ser avô, ver o sorriso da minha velha, quando entrava minha neta: “Vovó, Vovó olha o que eu desenhei!”. Não tem coisa melhor.

E dessa maneira... Um dia após o outro, fica o que deixamos,não me arrependo das promessas falhas, de te desejar como você é e cada vez mais, de criar nossos filhos do jeito que eles vão criar nossos netos,de mudar meus planos por uma vida melhor, pelas vezes que surpreendi as expectativas dos seus pais.Assim fica registrado,nessa breve eternidade, eu me despeço nessa madrugada,antes que o dia termine.

Curiosidade de criança.

Quando criança toda noite fixava seus olhos na parede, lá perdia horas tentando descobrir o que era uma sombra disforme causada pela lua, não eram folhas de árvores, sabia disso, tinha dias que sentia medo, se escondia debaixo da coberta, outros dias tinha mesmo era a vontade de abrir a janela para ver o que era certa vez tomou coragem, correu pra janela, mas viu a sombra se mexer, sair dali, será que era um pássaro? 
Quando chegou não tinha mais nada, não desistiu, tentou de novo outra noite, dessa vez foi mais rápido e um pouco mais desengonçado, tropeçou nos seus sapatos, cambaleando caiu da janela pra fora em questões de segundos com sua mente exagerada de criança pensou ter morrido, de olhos fechados estranhou não sentir dor, tinha medo de ver seu sangue, mas começou a ver sua pequena vida diante de seus olhos, quando sentiu um impacto, sabia que não era o chão, seu corpo estava suspenso, foi automático: abriu seus olhos e então desvendou o mistério, encontrou o dono das asas que o seguia toda noite, mas não era um pássaro ou um morcego, se tratava de um homem branco como a lua, com cabelos cacheados e dourados, um homem forte, o menino se assustou na hora, arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma e não um anjo.
-Olá Rodrigo, você está bem? - Além de ser homem, ter asas, ainda falava, pensou.
-To... To sim, tu...tudo be...bem. - Gaguejou.
-Que bom. Calma meu jovem, posso te explicar, sou Haniel, mas pode me chamar como quiser, sou seu anjo da guarda, tenho te acompanhado desde que você nasceu , eu não podia deixá-lo me ver e deveria apagar sua memória agora, mas confio em você ,acho quem ao contará pra ninguém e tem algo maior te esperando.
-Anjo? Haniel? Que história é essa? Peri, então foi você que me salvou de ser atropelado ontem?
-É mais ou menos por aí, você ia atravessar distraído, eu dei um sopro no seu ouvido pra você olhar pro lado certo.
-Entendi, obrigado moço, o que acontece agora?
-Nada, você vai pra cama porque tem aula amanha cedo.

Desde então Rodrigo não teve mais medo à noite, ao atravessar a rua ou quando andava de bicicleta, mas vivia levando esporro do Haniel. Anos se passaram depois disso...
-Rodrigo, você está arrumando idéia rapaz.
-Que isso Hani! Estou nada, de qualquer forma te tenho aqui comigo...
-Eu sei, mas eu sou só anjo da guarda, não faço milagres, não acha que escalar sem equipamento é demais não? Você adora me dar trabalho.
-Ah Hani admita que você me adora vai! Se não fosse eu, você morreria de tédio.
-É talvez...
           
Nessa época Rodrigo já estava mais velho, despertou grande interesse por esportes radicais, era seu hobbie, já que não tinha medo de nada. Então mais alguns anos se passaram...
Rodrigo já era bem velhinho, estava doente e em seu leito de morte conversava com seu melhor amigo, falando um pouco mais da vida.
-Bom Hani parece que dessa vez você não podem e ajudar, vou finalmente sair do seu pé. Depois de todos esses anos devo agradecer por ter caído daquela janela.
-Não fala besteira, por pouco não te salvo naquele dia, mas até que eu gostei.
-Não sei para onde eu vou, mas me promete uma coisa?
-O que?
-Que vai cuidar das crianças e da minha esposa?
-Não posso prometer isso
-Hani, Porque não?!
-Rodrigo você prestou atenção em tudo que eu disse e que fiz todos esses anos?
-Prestei, mas por quê?
-Por que você vai me substituir Rodrigo, esse foi um dos motivos de eu ter aparecido pra você, você é meu substituto
-Eu o que? Hani não sei se posso fazer isso, eu insensato como sou, como vou conseguir?
-Rodrigo, que mania tem de me questionar, trata de ficar quieto e aceitar isso? Afinal você quer ou não cuidar da sua família?
-Claro que eu quero ora, mas você é tão novo, porque tem que ser substituído?
-Eu novo? Que piada Rodrigo, sou mais velho do que você pode imaginar, atuei na terra antes mesmo de você nascer. Primeira Guerra Mundial, aqueles anos foram uma loucura, e da Segunda Guerra nem se fala, estava procurando um substituto a altura faz tempo e parece que eu encontrei. Não se preocupa comigo, vou trabalhar em outro lugar, venho te visitar às vezes velho maluco.
           
Essa foi a ultima conversa deles antes de Rodrigo fechar seus olhos de vez, por anos tomou conta de sua família e depois de outras e outras famílias, às vezes Hani vinha visitá-lo, afinal quando a amizade é assim sobrenatural não se deve acabar. 

O homem de lata.

Restava um corpo cansado, suas olheiras quase negras, as luzes queimavam e caia na escuridão, a escuridão dos olhos abertos, ele não os fechava, ele não dormia, nem descansava.
Ele tinha serviços incompletos, não sossegava, queria construir pontes, ligar cidades, construir edifícios cada vez mais perto do céu.
Ele já tinha calos nos dedos, esqueceu que podia sentir forme, esqueceu dos vizinhos, dos amigos, da família e da namorada, não era o bastante, ele não estava satisfeito.
Já deixou claro que quando terminar seus dias não quer ser enterrado tão pouco se tornar cinzas.
No final ele quer ser enlatado, para que ele não precisasse saciar seus vícios ruins, não ter que saciar a fome, a sede, o cansaço sempre.
Essas sim são as drogas, suas necessidades impróprias, tiram-lhe a lucidez essencial para botar de pé mais um arranha-céu, assim segue sua vida com os papeis trocados, os vícios no lugar das necessidades até seu calo curar, até seus olhos não agüentarem e de uma vez por todas, fechá-los para não abrir e finalmente se tornar um homem de lata.
Aos poucos passou a usar fios no lugar de neurônios.
Já não sentia sabor, já não sentia prazer, já não sentia amor, tinha muito que fazer.
Aos poucos tornou artificial sua inteligência.
Na sua frente só enxergava seu relógio, suas réguas, suas anotações e suas novas criações.
Aos poucos trocou sangue por óleo, tornou fria sua carne, tornou rígida sua pele, antes macia.
De tanto trabalhar, já não sabia nada, se lá fora chovia ou fazia sol, se era inverno ou verão, só sabia da sua selva de pedras e de metal, onde os animais vivem perdidos e apressados.
Seu sonho é ser um robô, dispensar distrações, não sentir sede ou fome, se livrar dos amigos e da família, meras distrações, não sentir saudades.
Aos poucos trocou o coração por uma maquina que bombeava de acordo com sua potencia elétrica.
Enfim, um sonho que virou realidade, o homem que ficou encinzentado, frio e vazio, finalmente se tornara: um homem de lata.

Que vida tem nisso ?

Pra onde vamos, aonde vamos parar?
Passa tempo, passa hora, corre, corre pra não perder a hora.
Correndo contra o tempo,
Corre, corre, não vai querer pegar o sinal fechado.
Pra onde vamos? Aonde vamos parar?

Todos com pressa, ninguém quer se atrasar,
Que vida tem nisso?
O metrô lotado, ônibus apertado, o trânsito sempre congestionado
Que vida tem nisso
Pra onde vamos? Aonde vamos parar?

O povo anda estressado, esquece de sorrir, da felicidade, da gentileza.
Gentileza gera gentileza, mas ninguém
Quer dar o primeiro passo, ninguém quer perder tempo.
Uma corrida contra o tempo, seus relógios devem estar ajustados
Está preparado? Então vamos, o sinal abriu, pé no acelerador.
Pra onde vamos? Aonde vamos parar?

O povo anda esquecendo o q eu de fato importa.
Apressados esquecem que a vida deve ser vivida.
É um sistema, está preparado? Para entrar deve ser assim:
Basta esquecer-se de sorrir, de se divertir, viver estressado e apressado. Basta não olhar para o lado.Siga em frente, sempre ! Passou no teste, meus parabéns.
Que vida tem nisso? Diz pra mim.
Pra onde vamos? Aonde vamos parar?

Corre, o sinal vai fechar!
Já está amarelo, mas não vai frear!
Não se esqueça da reunião, pé no acelerador!
Sempre em frente, não olhe pro lado.

É um cruzamento! Ah não, cuidado!...
...É meu caro, hoje não terá reunião pra você, sinto muito pela vida não vivida.
Pra onde vamos? Aonde vamos parar?
Enfim, o ponteiro do seu relógio já vai parar, não terá com que se preocupar.
Enfim é aqui que paramos seu patrão logo achará um substituto.
E então meu caro, diz pra mim. Que vida tem nisso ?

Amor com sexo.

Numa noite qualquer, faça calor ou faça frio, é do lado dela que eu quero estar.
Talvez eu fique ofegante, talvez eu sinta arrepio, sem pensar no amanha, posso tentar imaginar quantas pessoas em outro instante, em outro lugar, estejam bebendo, caindo, se divertindo, morrendo de rir, de dor, de amor ou até de prazer, dormindo com mais uma desconhecida, não é meu caso, está longe disso.
Essa noite eu não senti frio, nem me senti sozinho, você estava comigo, um tanto melancólico ou até metafórico, afinal os corpos se encaixam como peças de um quebra-cabeça, alguns levam anos para serem completos e no final aquele prazer infantil por ter completado seu jogo, agora está maduro, não há mais pulos de alegria, não tem mamãe ou papai, o prazer infantil se tornou jovial, agora as gotas de suor se tornam uma só, os beijos se encaixam assim como os abraços, a pulsação, as batidas do coração, dá pra sentir a adrenalina. Esse é o prazer de gente grande.
E na primeira vez como uma criança que vai ao primeiro dia de aula, sente que tudo vai dar errado, a mochila vai abrir no meio do corredor ou vai esquecer-se de colocar as calças, mas fica marcada, é inesquecível , seja natural ou combinado, seja pago ou conquistado. A adrenalina se dobra, mas no final tudo acaba bem, está no instinto.
Quebrando tabus e preconceitos, sem distinção de cor, raça ou religião, seja onde for, a linguagem, a emoção, a sensação é a mesma.
Na adolescência com a sem vergonha do prazer solitário, o corpo é descoberto pouco a pouco, independente de ser homem ou mulher, apesar de ser uma proporção desigual, meninas ficam longe de falar disso e mesmo as que fazem por prazer ou por curiosidade, não gostam de admitir ou de tocar no assunto, não querem pôr a reputação em risco, nem querem que os outros fiquem pensando no que ela faz quando está sozinha.
As quatro paredes nos deixa livres de más impressões sejam pelas luzes de velas e pétalas de rosas ou até as algemas e segue assim sem ter do que se arrepender se a noite for boa pra mim e pra você.
De manhã o sol bate sem pedir licença, um despertador silencioso e como se abrisse a cortina procura o primeiro rosto. Posso levantar, mas prefiro deixar como está, um ‘bom dia’ no pé do ouvido, olha, outro arrepio, seu cabelo bagunçado, minha cara amassada, aos mais criativos talvez até o café-da-manhã na cama, a quem saia de fininho noite adentro, podendo esbarrar em algum móvel ou até no próprio arrependimento.
-Será que no dia seguinte ele vai me telefonar?- A pergunta que não quer calar.
Mas porque tanto mistério, se não telefonar quem sai perdendo é ele.
Se a noite não devia ter tido fim, de manha então, existem todos os motivos para continuar deitado.
Na cama, na grama, na praia, no bar, no hotel ou no motel.
-Querido, onde vai ser nossa lua-de-mel?
Dar bom dia todo dia pra quem você gosta tomar café acompanhado na cama ou na mesa da cozinha, preparar aquele prato preferido, mas não todo dia.
Se casar é fazer um contrato, dedicar-se toda noite exclusivamente a uma pessoa só, para o resto da vida, envolvendo promessas e problemas.
Um flagra que foi feito inesperado, um segredo de um amor proibido antes guardado pelas quatro paredes agora fugiu pela janela.
Se a carne é fraca o homem não se contenta com pouco, se não recebe atenção, a mulher procura quem lhe dê.
Muito gira em torno disso, alguém com quem passar a noite, ninguém quer sentir frio, se sentir sozinho,seja casado, divorciado, solteiro ou mal-amado, seja homossexual ou indeciso.
Todos fugindo da rotina. Há os que fazem da criatividade como uma base, uma fuga da monotonia: Vestir-se de enfermeira, policial ou até doméstica, pode funcionar...
Da fantasia de alguém que fantasiou que um dia faria amor no elevador, mas podia ser no cinema, na praia, no mercado ou em qualquer carro estacionado.
Alguém pode imaginar inventar, fantasiar e acompanhado embaçar um vidro, se esconder atrás de um carro ou até dentro do armário, há quem tenha olho grande e um (a) não é o bastante. Quem tem mente aberta não se importa de dividir.
As mulheres sabem o que fazer, pegam o melhor lingerie, seja comestível, preta ou vermelha, não importa,sabem se vestir. Mas os homens não ficam atrás, à quem resista à um quarto cheio de velas e pétalas de rosa? Mais uma vez como peças de um quebra-cabeça ambos se completam.
Beirando o amor e o pecado, não há regras a seguir.
Mais do que eu ou você nus estão nossos desejos.
Para quem quer algo casual o perigo é se apaixonar, para quem ama é se deixar tentar.
Pode levar apenas uma noite e ainda sim ficar na memória pro resto da vida.
Pode ser selvagem ou amável, pode ser o começo de tudo ou pode ser isento de promessas ou planos para o futuro, mas nesse caso não espere dormir abraçado.
Pode vir seguido de bebidas, musica e encontros românticos. Seguido de abraços, caricias e amassos. De promessas, conversa afiada e até planos de uma vida debaixo do cobertor.
Percorrendo o teu corpo, fico perdido, entre curvas e defeitos, pintas e cicatrizes, se estivesse em uma estrada não faria questão de procurar o mapa, mas não há tentação sinuosa que vença um sorriso. Seu sorriso matinal vale por toda noite passada, serve de combustível para meu dia. Já com o cabelo arrumado e minha cara menos amassada recebo um ‘bom dia’ , sem arrepios mas uma sensação de satisfação. Quero teu cheiro no meu travesseiro, sua respiração em sintonia com a minha, que nossos suspiros se tornem um só, quero mordidas que marquem, não só o corpo, mas marquem na memória.
Só hoje eu não quero levantar, mesmo que o sol entre sem fazer questão de pedir, só hoje quero ficar debaixo dessa coberta.
Talvez daqui a alguns anos essa seja a nossa rotina, mas sem cair na rotina, cada dia uma caricia um arrepio, um desejo diferente.
Mas toda manhã só vou querer me deitar e te abraçar, sentir seu corpo perto do meu, sem deixar que nada venha para atrapalhar, vou deixar esses pensamentos guardados, vou esquecer o mundo lá fora, esquecer trabalho e a escola das crianças, esquecer os outros e suas desconhecidas porque nessa hora só quero ficar a sós do lado da minha menina, da minha mulher.

(Logo) Ali na esquina.

Na esquina da minha rua houve um acidente, um acidente de carro.
Um vermelho e outro prateado, ainda não sabem o motivo, se tinha alguém distraído ou falando no celular, mas por sorte ninguém saiu ferido.
Eu vi tudo, mas prefiro não testemunhar, não me meter, quantos julgamentos são injustos por aí? Não quero fazer parte disso.
Na esquina da minha rua houve um assalto, o cara estava armado e encapuzado, dessa vez eu não vi, uns vizinhos diziam que ele era branco, outros que ele era negro, mas o cara não estava encapuzado? De qualquer forma por isso que eu sempre ando olhando pros lados.
Na esquina da minha há um orelhão, que sempre toca quando estou perto, eu nunca sei o que fazer, mas com a certeza de nunca atender, vai que é um seqüestrador ou um falso apresentador de programa dizendo que ganhei um prêmio, querendo me dar um golpe!
Na esquina da minha rua, dizem que a filha da dona Joana ficou grávida, ela sempre namorava, no muro, no carro, madrugada à dentro. Vai saber o que passa na cabeça desses jovens de hoje em dia...
Na esquina da minha rua, seu Antônio encontrou seu filho depois de anos e eu estava por perto pra ver isso, por isso mantenho contato com meus pais, meus avós e até aquela tia mais chata.
Eu não me considero paranóico! Eu apenas sigo regras, Pra evitar alguns problemas. Nunca atender o celular no trânsito, andar olhado para os dois lados, nunca atender o orelhão, nunca namorar a filha da dona Joana na esquina pode ser ‘perigoso’ e nunca perder contato com a família.
Na esquina da minha rua, onde o vento faz a curva. Um muro pichado, vidro no chão estilhaçado.
Às vezes se ouve o barulho de sirene, outras vezes de carro de som.
Na esquina da minha rua começa o mundo lá fora, os problemas deixam de ser batidas de carro ou namorados irresponsáveis, podemos falar de aquecimento global, AIDS e corrupção.
Sobre isso já criei minhas regras, andar mais de bicicleta, não transar sem camisinha, principalmente se for com a filha da dona Joana e não guardar dinheiro na cueca ou na meia.
Mas prefiro não falar muito, deixo nas mãos das autoridades, mas será que eles vão resolver? Será que criaram suas regras? Vai saber... sou suspeito pra dizer, dizem por ai que sou meio paranóico.

Quem sou eu.

Quem sou eu. Sou o que sou, sou tudo aquilo que me representa.
Porque ser só não convém a ninguém.
Sol e Lua se sentem sozinhos também.
Posso ser o talento daqueles que inventam.
Sou a arma que dispara, sou a justiça que não falha.
Sou o sol que invade e a chuva que não para.
Quem sou eu. Eu sou o que sou também sou quem sou.
Sou certo, sou errado.
Não posso questionar isso nem aquilo, sou indeciso.
Sou quente, sou frio.
Sou assim, sou assado.
Quem sou eu. Sou quem sou, sou tudo aquilo que já fiz ou um dia vou fazer.
Se sou assim como eu sou, quem será que vou ser, caso eu queira ser assim... Parecido com você?
Sou cheio, sou vazio, quando estou de saco cheio talvez eu apenas me sinta vazio.
Sou o mar, sou o rio.
Sou leve, sou pesado.
Estou longe, alto, distante.
Sou o inimaginável,inesgotável.
Sou começo, meio e fim, posso dar um fim a uma história sem fim ou começar outra assim.
Quem sou eu. Sou o que sou, sou a união de todos os pedaços de mim espalhados por aí.
Sou raiz, caule e fruto.
Sou o amargo do chocolate, o picante da pimenta.
Sou nota musical, serenata, entrega de cartas ou de rosas.
Sou paixão jovial, recheada de promessas.
Sou amor de verdade, amor de mãe, pai e irmão.
Sou o amor não correspondido, assim sou só.
Sou a lágrima que nunca seca.
Sou a tristeza no coração, sou o sorriso de felicidade, o sorriso de gratidão.
Sou a decepção, sou a inspiração.
Sou remédio, sou veneno correndo nas veias.
Sou a solução que você procura.
Sou perfeito pela minha imperfeição, o que são as pessoas sem defeitos?
Quem sou eu. Sou diferente do que você imagina.
Eu sei ser bom como ninguém, mas se precisar ser rude, eu sei ser também.
Sou a exceção, o exagero, a exatidão.
Sou o sucesso depois do fracasso.
Sou seu medo, seu suor frio.
Sou seu desejo, seu arrepio.
Sou fogo que arde,
Sou inconstante, uma metamorfose ambulante.
Sou a saudade que bateu na sua porta.
Sou a brisa, a onda, um trovão.
Sou destaque, debate, problema e solução, o lado positivo e o lado negativo.
Sou verdade, um pedido de perdão.
Sou as palavras que me sufocam, sou meu próprio labirinto.
Sou um sonâmbulo. Aprendiz de poeta, de amigo, de humano.
Sou raso, sou profundo.
Sou a beleza nos olhos de quem vê a “feiúra” dos inseguros.
Sou testemunha de um mundo injusto, sou a esperança de um olhar infantil.
Sou diferente, sou estranho, sou maluco.
Sou pensante, um idiota, um errante, mas não sou de me arrepender.
Sou a felicidade do pai quando vê o filho nascer e a alegria do filho quando escuta “eu amo você”
Sou suor do trabalhador, do jogador, dos amantes, sou suor frio, sou arrepio.
Sou tudo que você possa achar, mas posso ser totalmente diferente.
Fui um feto, isso é fato.
Se sou tudo aquilo, que minha imaginação pode alcançar, eu consigo também ser apático, indiferente, ser um nada, mas ser assim é tão sem graça!
Posso ser como você me vê e mesmo que você não se esforce pra saber. Não sei realmente quem eu sou, prefiro não arriscar, não vir com uma certeza se é a duvida que eu tenho na cabeça, não adianta procurar explicação, usar meras palavras, impor uma definição, não quero me limitar à tão pouco.